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RAIZ DE SAUDADE

poema

(José Fortuna - grav. Zé Fortuna e Pitangueira)

Contemplando o anoitecer, vendo o céu escurecer, eu fico olhando pra trás
vejo lá longe o passado e o estradão que eu tenho andado, que não volta nunca mais.
Lá no começo da vida, vejo uma cruizinha caída, muito bem longe daqui
na beira de uma estrada, entre cipó abandonada, no sertão onde eu nasci.

Essa cruizinha esquecida, na estrada de minha vida, é o marco de uma lembrança
Porque no pé daquela cruizinha foi onde morreu Rosinha, coleguinha de criança.
Naquele sertão só tinha duas véias paiocinha, bem no alto do espigão
e para mim só Rosinha era a única vizinha, que eu tinha lá no sertão.

Nem bem despontava o dia a Rosinha já corria, lá em casa me chamá.
Levantava, que alegria e correndo nós dois ia lá no corguinho brincá.
Nós dois formamo um jardim, plantamo rosa, alecrim, tinha flor roxa, flor amarela
e todas as flor que eu apanhava correndo alegre levava pra enfeitar os cabelos dela.

No tronco de um véio ipê, juremos de se querê e até fizemos um sinal
pra quando nós dois crescesse e o nosso ombro lá batesse nós haveria de casar.
Seu moço, se não me engano, quando eu já tinha um dez ano a desgraça aconteceu.
Rosinha caiu doente, com uma febre , de repente em poucas horas morreu.

Seus zóio foi se fechando, pra mim falou variando: - Não chore, eu vô passeá.
Foi tão longo seu passeio, esperei tanto ela não veio, nunca mais tornô vortá.
Todas as flor que nós plantemos, que juntinho nós reguemos, eu dei pra ela levá.
Parece que ela dizia: - Não chore, no céu um dia havemos de se encontrá.

Eu fui esperá no serrado, o caixão passou enfeitado e todo o pessoal atrás
naquele tempo eu não sabia, que quando a gente morria não vortava nunca mais.
Lá no ipê que nós juremos, onde tantas vez balancemos, com um galho fiz uma cruz
e ela partiu entre véu, junto com os anjos do céu, cantar louvor a Jesus.

Pra muito longe mudei, fiquei moço, me casei pra ver se esquecia, mas, cuá.
Até hoje, todas as tardes esta raiz de saudade no peito torna a brotá.
Você tá me ouvindo, Rosinha? Eu já tenho uma filhinha do tamanho de você
cada vez que olho pra ela parece que vejo nela seu retrato aparecê.
Pois desde que você foi embora, eu andei pro mundo afora só falsidade eu achei
mas amor sagrado, amor puro como o nosso, eu juro, nunca mais eu encontrei.