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O FABRICANTE DA MORTE

Poema - diálogo

(José Fortuna – grav. José Fortuna, Pitangueira e Joldemar Tavares)

Narrador: - Um homem enriqueceu fabricando aguardente. Carros, fazendas, palácios, adquiriu de repente.
      Uma noite ele sonhou que estava muito contente entre seus bens, quando deu-se um fato surpreendente.

Homem: - Minha fábrica de cachaça deu-me um lucro fabuloso... tudo isto me pertence estou rico, poderoso.
Consciência: Boa noite. Como vai?
Homem: - Boa noite, quem é o senhor?
Consciência: - Sou a sua consciência. Acompanhe-me por favor. Quero lhe mostrar agora quanta dor, quanta desgraça, quantos lares destruíste com sua maldita cachaça.

Homem: - O que é isso? Ouço vozes de crianças a chorar!
Consciência: - Sim. São as criancinhas órfãs que ficaram a penar,  depois que seus pais morreram bebendo até se acabar, a  sua maldita cachaça num triste balcão de bar.

Homem: - Está chovendo sem nuvens? Por que esta chuva, por Deus!
Consciência: - São as lágrimas das mães, que perderam os filhos seus, bebendo a sua cachaça.
          Uns morreram, outros mataram. Esposas sem esperança que abandonadas ficaram.

Homem: - O que é isto, onde estou? Sinto um estranho pavor...Ouço um turbilhão de vozes gritando para mim! OH! que horror!
Consciência.: - São os homens que bebendo sua cachaça enlouqueceram e hoje estão num manicômio, chorando o lar que perderam

Homem: - O que vejo? Um grande rio?  Com suas águas revoltadas e pessoas afogando-se gritando desesperadas?
Consciência: - Este é o rio de cachaça que o senhor fabricou. E veja ali quantas vidas sua cachaça afogou.
                           Para o senhor ficar rico e tão depressa progredir., quantos sonhos, quantos lares, foi preciso destruir.

Homem:  - E esta longa procissão , silenciosa, onde vai?
Consciência.: - São mães que perderam filhos, filhos que perderam pais. Vão até o cemitério, todos cobertos de luto, visitarem os que morreram vítimas de seu produto. Tu sabes que ela é veneno, mas vende sem piedade a cachaça destruidora,  flagelo da humanidade.
          Por isso vou atirá-lo neste abismo profundo. Fique aí. És o pior dos pecadores do mundo.

Homem:  - Estou caindo, é um abismo. Tudo é escuro em meu redor.
                    Nada estou vendo, socorro! Salva-me Deus, por favor.
                    Ah! Estava dormindo, acordei. Então era sonho. Oh! Que sorte!
                    Sim, mas o sonho provou que eu sou o fabricante da morte.