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O CASAMENTO DA PIERINA E O VITÓRIO
(poema – escrito em 19/01/1966)
dialeto caipira

                                                               (José Fortuna)

Eu namorei cinco anos
A Pierina Fumagaro
Como era linda, ostregão
Parecia um boi de carro
Mascava fumo, bebia pinga
E fumava um cachimbo de barro

Como ela se enfeitava
Pra comigo se encontra
Ela penteava o cabelo
Com gordura de gambá
Comia quatro cebola
Para a boca perfuma

Como ela era luxenta
Que capricho que ela tinha
O perfume que ela usava
Era banha de galinha
Tirava os bicho dos pé
Com uma faca de cozinha

No dia que nóis casemo
A Pierina, pé de pato
Calçou a primeira botina
De número quarenta e quatro
Tomou o primeiro banho
Lá na lagoa do mato

Botou um vestido vermeio
Que ela emprestou da nona
Limpou as oreia com um sabugo
Passou óleo de mamona
Escondeu o papo com o lenço
Ficou linda, lá madona

Eu vesti um terno amarelo
Botei um lenço xadreiz
Que eu comprei por dez miarréis
Do Guerino Milanês
Carcei um sapatão vermeio
Que o Zé do Nani me feiz

Nóis cheguemo de carroça
Para casá no cartório
Todos sortavam rojão
Porco cã, que foguetório
E gritavam – viva os noivos
A Pierina e o Vitório

Os cavalo se espantaro
Com os tiro de rojão
E dispararam com a noiva
Pro lado do ribeirão
Fui encontrá a Pierina
Em cima de um pé de mamão

Com aquela correria
Ela perdeu o vestido
Quebrou a perna de pau
Trincou o zóio de vidro
E a dentadura novinha
Com o susto tinha engulido

De noite têve uma janta
Convidei a italianada
A Pierina, ostregão
Comeu treis leitoa assada
Quando foi roer os ossos
Quase morreu engasgada

Nóis ganhemo de presente
Uma porca e seis leitão
Uma mula de carroça
Um pareio e um sapatão
Uma enxada pra Pierina
Ir comigo pro taião

Hoje nóis já tamo veio
Tempo bom não vorta mais
Temo vinte e cinco filho
Déiz muié e quinze rapaiz
Um mais bonito que o outro
Pucharam a cara do pai

Sentado em cima do fogo
Fumando o nosso cachimbo
Hoje eu passo com a minha veia
E ela diz pra mim sorrindo.:
Ostregueta, hein Vitório?
Nóis dois é que era lindo!