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MEU BOM VELHINHO
poema                                                  (José Fortuna - grav. Zé Fortuna e Pitangueira)

Velhinho, meu bom velhinho, garanto que eu adivinho o que está pensando agora
sentado ali num cantinho com a mão no queixo sozinho olhando o mundo lá fora.
Tá lembrando com saudade o tempo da mocidade que nunca mais vai vortar.
Acertei? Ou tô errado? Se acertei,   escute calado que eu vou te fazer sonhar

Sonha, velhinho, sorrindo com aquele passado lindo que muito longe ficou
quando ao pé de um anjiqueiro você esperava um dia inteiro pra ver passar seu amor.
Quantas loucuras gostosas naquela idade saudosa a gente faz sem pensar
cantando pra bem amada pelas frias madrugadas na noite azul de luar.

Feche os olhos por um momento e veja com o pensamento o tempo bom que passou
como um barco no oceano que com o peso dos anos para sempre naufragou.
Não, não abra os olhos ainda, sonhe mais com a idade linda das manhãs enluaradas
que você igual um raio cortava com aquele baio, oh, cavalo bom de estrada!

E seus velhos companheiros? Muitos deles já morreram,  outros não sabe onde mora
todos estão por aí como folhas que ao cair se vão pela vida afora.
Velhinho? – acorda, velhinho, me deixou falando sozinho,  veja aí os netinhos seus
você estava sonhando porque já faz tantos anos que isso tudo aconteceu.

Não acredita? Olhe no espelho. Veja seus brancos cabelos e seu rosto envelhecido
os traços da mocidade com o vendaval da idade foram todos destruídos.
Cada cabelo branquinho representa um espinho que feriu os dia seus
mas suportaste com calma porque nunca sua alma perdeu a esperança em Deus.

Conforme-se com o destino. Eu também já fui menino, mas sigo o mesmo caminho
ninguém foge ao rumo certo, um dia eu terei netos e também serei velhinho.
Agora que está acordado e que está mais conformado fale a verdade, velhinho
é até bom sentir saudade porque a linda mocidade a gente vê tão pertinho.

Você que viveu bastante já notou que interessante é a tal felicidade
da gente sempre se esconde e a gente não sabe onde ela mora de verdade.
Aperte, velhinho amigo, a minha mão e eu lhe digo parabéns, de coração.
Porque na estrada da vida sempre com fé decidida cumpriste a sua missão.