MENINO POBRE
poema
(José Fortuna – Pitangueira - grav. Zé Fortuna e Pitangueira)
Quem se lembra do Joãozinho, um menino pobrezinho que vivia no Arraiá
pelas ruas abandonado, sempre sujo, rasgado, que dava pena de oiá.
E ainda o pessoal malvado escorraçava o coitado sem lembrá de perguntá:
– Quem será este menino? mas eu que sei o seu destino vou sua história contá.
O seu pai era o Bastião. Trabalhador, homem bom, não deixava fartá nada.
Mas a morte sem compaixão pegou o pobre Bastião, levou pra outra morada.
Na hora que ele morreu somente este encargo deu pra sua mulher a chorá :
– Cuide bem do Joãozinho, mostre só os bons caminhos ensine a te respeitá
Mande só fazer o bem, não dever nada a ninguém e pra ele nunca esquecê,
que é mais bonito e louvado sofrer fome, mas honrado do que roubar pra comê.
Foram as palavras derradeiras. Naquela cama de esteira os seus olhos se fechô.
Com os anjos pro céu subiu e neste mundo vazio só os dois sozinhos ficou.
E sua mãe sem compaixão, acho que foi tentação, sem piedade e sem dó
com outro homem fugiu. Morrendo de fome e frio, o Joãozinho ficou só.
Alvoroçou o arraiá e Joãozinho a chorá, ninguém ouvia seus ais
odiado por toda a gente, pagava assim inocente a culpa de sua mãe.
Quando ele estendia a mão pedindo um pedaço de pão pra sua fome matá.
Diziam – “Suma já daqui pra fora, pois sua mãe foi embora, e eu é que vou lhe sustentá”?
E assim ele foi morrendo, se acabando, padecendo, odiado no lugá.
Olhe moço, que destino, que culpa tinha o menino de sua mãe não prestá.
E numa manhã de geada lá nos degraus da escada alguém um corpo encontrou.
Tava morto, encolhidinho, era o corpo do Joãozinho que o povo ingrato matou.
Enrolado num saco, sepultado num buraco, não teve choro e nem ais.
Não teve flor e nem vela, mas agora embaixo da terra nós todos somos iguais.
Humanidade perdida, se te sobra comida, dê de esmola a quem não tem.
Porque a vida é sem garantia, ninguém sabe se algum dia há de precisar também.