AS DUAS CORÔAS
(poema escrito em 23/11/1958)
(José Fortuna)
Um dia ouvi num museu
Duas coroas conversando
A primeira era de ouro
Com seu brilho cintilando
A outra era de espinhos
Quieta, num canto escutando
Dizia o ouro.: “É muito grande
A diferença entre nós dois
Sou ouro, e tu és espinho
Que talvez encontrado foi
Na cabeça de um espantalho
Em alguma roça de arroz
Eu já coroei um Rei
No tempo da monarquia
Freqüentei festas de gala
Da mais nobre fidalguia
Em sua linda carruagem
Sem eu, o Rei não saía
E tu, quem foi o teu Rei?
Algum louco, ou mendigo
Pois veja que estás bem longe
De se comparar comigo
Pois sinto nojo e vergonha
De estar junto contigo”
Respondeu a coroa de espinhos.:
“Tu não sabes o que dizes
Meu rei foi o Rei dos Reis
Juiz de todos os juízes
Que perdoou os que erraram
E encorajou infelizes
Meu Rei foi tão nobre e puro
De inigualável bondade
Pois tendo ele nas mãos
A chave da humanidade
Morreu sem pedir vingança
Num exemplo de humildade
Estas manchas em meus espinhos
É de seu sangue sagrado
Lá no monte do Calvário
Por seu sangue fui banhado
Pra salvar os pecadores
Foi morto e crucificado
É menor que um grão de areia
Seu Rei comparado ao meu
Porque meu Rei foi tão nobre
Que nem a morte o venceu
Morreu e ressuscitou
Aos olhos dos fariseus”
Eu que ouvia esta conversa
Fiz logo o sinal da cruz
Pois vi que aqueles espinhos
Eram espinhos da luz
Que coroou no calvário
A fronte santa de Jesus