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A PRISÃO DA LIBERDADE
(poema escrito em 18/10/1977)

(José Fortuna)

Um jovem fugiu de casa
Só para ter liberdade
Não casou para não ter
A responsabilidade
Dizia.: filhos e pais
Só faz a gente infeliz
Quero ser livre e sozinho
E dono do meu nariz

E sozinho foi vivendo
Mas descobriu muito tarde
Que a pior prisão do mundo
É a prisão da liberdade
Quando não há mais ninguém
Sabendo que a gente existe
Isto é ser livre, porém
Que liberdade tão triste

Aquele jovem tão livre
A solidão não suportou
E uma noite em seu quarto
Sozinho se suicidou
E para servir de exemplo
De seu tão amargo fim
Ele deixou uma carta
Com tristes frases assim.:

“É triste não ter ninguém
com a gente a se preocupar
sem perguntar ao sair
quando a gente vai voltar
Poder ir onde quiser
sem precisar regressar
porque não existe ninguém
no mundo a nos esperar

Saber que nas noites frias
Em nenhum canto da terra
Existe uma luz acesa
De alguém à nossa espera
Nem uma porta aberta
A espera que a gente vem
Voltar quando bem quiser
Sem preocupar ninguém

Feliz de quem nesta vida
Tem horário pra chegar
E filhos, mulher e mãe
Anciosos a nos esperar
Em algum lugar do mundo
Alguém a nos perguntar
O que aconteceu? Por que
Demoraste pra chegar?

Nunca tive nada disto
E na clandestinidade
Que escolhi para viver
Fui um João Ninguém de verdade
Ponho um fim na minha vida
Por ver a realidade
Que a mais triste das prisões
É a prisão da liberdade”