VIDA
(poema escrito em 09/03/1964)
(José Fortuna)
Vida
Palavra tão pequenina
Tão fraca como a neblina
Que ao vento se desfaz
Qual uma bolha de espuma
Que não resiste ao sol quente
Assim é a vida da gente
Uma sombra e nada mais
Passa a infância risonha
Logo vem a mocidade
Chega a velhice e a saudade
Fica na nossa lembrança
Revendo a infância sumindo
Lá distante no horizonte
A gente diz: mas foi ontem
Que eu ainda era criança
Vida
Me revolto com você
E lhe pergunto por quê
Brinca assim com a nossa sorte
Fazemos os nossos planos
E no momento mais lindo
Você nos entrega rindo
Aos braços frios da morte
Vida, veja quantos lares
Onde um homem sozinho
É que trata dos filhinhos
Pra lhe dar um lar e um nome
Vem a morte e o leva embora
E você acha bonito
Ficarem meninos aflitos
No mundo passando fome?
Vida
Porque largas de repente
Uma criança inocente
Deixando morto um corpinho
E uma mãe enlutada
Pelo mundo desolada
Chorando desesperada
A morte de seu filhinho
Quantos casais que se amam
E que o mundo daria
Pra viver noites e dia
Sempre juntos lado a lado
Vem a morte e os separa
E com sua boca desdentada
Fica sorrindo a malvada
Por deixá-los separados
E neste curto espaço
Que é a nossa existencia
Há pessoas que não pensam
Na dura e fria verdade
Que a vida é tão passageira
Qual a luz de um pirilampo
Que acende e apaga no campo
Na noite da eternidade
Não ligam para os que sofrem
Na solidão deste mundo
Se esquecem que é um segundo
A duração desta vida
E que as glórias terrenas
Por mais sólidas e fortes
Se apagam depois da morte
E breve são esquecidas
Feliz daquele que em vida
Vai sua alma preparando
E com amor praticando
A caridade do bem
Para que um dia sorrindo
Deixe a morte o levar
Para com Deus se encontrar
Na vida eterna do além