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VELHA SALA

poema

(José Fortuna)

Com licença, tempo antigo, estou entrando
Nesta sala que você, se propôs a conservar
Tantos anos se passaram que agora
Eu nem sei se minha mente, vai de tudo se lembrar
Era ali, naquele canto que mamãe
As tardinhas se sentava, para as roupas remendar
Neste esteio existia uma gaiola
Quantas vezes o canário, me acordou com seu cantar.

Tempo antigo, não perdôo seu desleixo
Por deixar morrer no tempo, esta sala de meu lar
Porque foi apodrecer a cumieira, onde eu via a corruíra, sobre ela passear?
Eu me lembro do natal, toda a família, nesta sala reunida, meus irmãos, minhas irmãs
Na alegria de criança, eu corria, neste trinco da janela, quebrar nozes e avelãs.

Velho tempo, me perdoa esta implicância, são loucuras de poeta, no desejo de voltar
Mas eu sei que a sua ida não tem volta, no roteiro do futuro, seu destino é caminhar
É uma pena que você, tempo sem tempo, nesta sala do passado
Não tem tempo pra parar, tempo antigo, não me acorde, estou dormindo
Eu voltei a ser menino, com direito de sonhar.