ÚLTIMA BANDEIRADA
(composta em 07/01/1982)
(José Fortuna – Jair Sanches)
Bem no centro de São Paulo tomei um táxi até a estação
O motorista me disse: estou de volta para o sertão
A última bandeirada vou dar agora e vou parar
Aqui na cidade grande não consigo me acostumar
Cada avenida que eu passo me lembro as ruas de algodão
Lá eu era tratorista, um dos esteios desta nação
Aqui eu sou motorista estou perdido na multidão
Lá fumaça era neblina, aqui é tudo poluição
Aqui os prédios parecem as cordilheiras do interior
Me lembro da sacaria que eu levava no meu trator
Aqui levo passageiros sempre apressados e sem sorrir
Se atrasamos um pouco suas ofensas temos que ouvir
Lá eu trocava um pneu sem ter nenhuma preocupação
Na beira dos carreadores por entre o verde da plantação
Aqui corremos o risco de ser pilhado na contra-mão
E ainda um belo dia morrer nas unhas de algum ladrão
É um tal de pagar imposto, licenciamento, multas e Tru
É o carro ficando velho e o motorista ficando nu
Pneu ficando careca e sem dinheiro para trocar
Descarrega a bateria e o motorista tem que empurrar
Pra pagar a prestação ele levanta bem de manhã
Se enjeitar um passageiro a sua carta vai pro DETRAN
No final ele me disse: este é o presente que eu vou lhe dar
Na última bandeirada nem a corrida vou lhe cobrar