PAPAI E MAMÃE
(poema escrito em 06/12/1961)
(José Fortuna)
Desde quando eu vim ao mundo
Num berço pequenininho
Tive papai e mamãe
Pra guiar os meus passinhos
Até a morte levá-los
Me deixando aqui sozinho
Eu me lembro de papai
Assim que o dia clareava
Ao sair para o trabalho
Bem contente me abraçava
E com o suor de seu rosto
Para mim nada faltava
Ao lado de meu bercinho
Minha mãe sempre sorrindo
Me embalava com ternura
Cantando uns versos tão lindos
Só parava de cantar
Quando eu estivesse dormindo
Quando eu adoecia
Pela febre variando
Em altas horas da noite
Via mamãe me embalando
E de seus olhos tristonhos
Via dois prantos rolando
Papai e mamãe para mim
Foram faróis de esperança
Que iluminaram as estradas
Das noites de minha infância
Como duas sombras amigas
Onde o estradeiro descansa
Um dia papai morreu
E alguém pra me consolar
Dizia que era um passeio
Que o papaizinho ia dar
Foi um passeio tão longo...
Para nunca mais voltar
Fiquei na maior pobreza
Naquela triste orfandade
Mamãe se cobriu de luto
Chorando a dor da saudade
Trabalhava para eu
Não passar necessidade
Não resistindo a miséria
Daquela vida vazia
Passado um ano depois
Minha mãe também morria
E no momento da morte
Para mim, ela dizia:
“Filhinho, vou te deixar
neste mundo abandonado
quando a fome dominar
o seu corpinho cansado
peça esmola, mas não roube
porque roubar é pecado”
Isto já faz muitos anos
Eu muito tenho penado
Sofri fome, sofri sede
Por este mundo jogado
Mas sempre vou visitar
Onde meus pais estão enterrados
Como se eles me ouvissem
Falo com as pedras do chão
Meu papai, minha mãezinha
Eu quero a sua bênção
E venha tirar seu filho
Desta triste solidão
Quem tem papai e mamãe
No mundo nunca sofreu
Porque é a maior riqueza
Que na vida Deus lhe deu
Este é o lamento de um órfão
E este órfão sou eu