Imprimir    << voltar

 

OS VALENTES TAMBÉM AMAM

teatro (toada)

(José Fortuna - grav. Zé Fortuna e Pitangueira)

- Como, Sr. Gregório. O Sr. não pode tomar as minhas terras e todo o dinheiro que lhe dei?
- Dinheiro, dinheiro, você ainda é desse tempo. Estas terras são uma arapuca pra pegar
otários como você. Tudo o que você deu, perdeu.
- Canalha!
- Clarindo, por favor, não brigue!
- Largue-me, Rosa, preciso dar uma lição a este canalha.
- Não venha. Não venha que eu atiro
- Pois terá que passar sobre o meu corpo, antes de tomar as minhas terras...-
- Capangas, atirem...
- (Passado o tiroteio, três corpos sem vida restavam no chão e entre eles estava o corpo de Rosa
e Clarindo chorando desesperadamente sobre o corpo de sua esposa agonizante)
- Rosa, meu amor, você não pode morrer. Não me deixe aqui sozinho.
- Clarindo. Um dia nos encontraremos...
- Rosa, rosa! Rosa está morta!
- (Alguns anos depois, todas aquelas paragens estavam no mais completo abandono
o ranchinho caindo e dentro dele o pobre Clarindo morrendo aos poucos, sempre vigiado de longe
- por Gregório, o homem covarde e sanguinário que aguardava uma oportunidade para matá-lo.
(E todos os dias Clarindo ia chorar na sepultura de Rosa)
- Rosa, vem buscar-me, leva-me consigo para o céu!
(E eis que inesperadamente surge Gregório, que o ataca pelas costas. Gregório porem não contava
- com a presença de Baiano, o colega inseparável de Clarindo que chega inesperadamente)
- Onde tu vai, Gregório?
- Baiano?
- Tu matou meu amigo. Tu tem que morrê tambem. Tá vendo esta peixeira? Vou te matá, seo canaia!
(Clarindo foi sepultado ao lado de Rosa. Os anos se passaram e hoje ao pé daquelas cruzes
muitas flores se abriram, como se fossem suas almas que se encontraram no céu)

Aquele ranchinho na boca da mata sinal de um passado de lutas e dor
de homens valentes, de feras bravias, de selvas agrestes que encheram de flor
ali é que viviam Clarindo e Rosinha, seu lar construíram com sangue e suor
porém quis um dia que a fatalidade destruísse aquele recanto de amor

Gregório perverso grileiro de terras chegou com os capangas cruel matador
e quis expulsar o caboclo Clarindo, que luta sangrenta! que tarde de horror!
e após meia hora de atroz tiroteio, três corpos sem vida somente restou
e junto estava o corpo de Rosa igual uma flor que o tempo arrancou

Quem podia crer que o moço Clarindo, temido e valente pudesse trazer
no fundo do peito uma alma bondosa, coração que sabe amar e sofrer
não se conformando com a morte da esposa qual uma criança chorando de dor
naquele ranchinho sozinho sofrendo foi se acabando e morrendo de amor

E hoje daquele pequeno ranchinho só um vulto perdido na mata restou
e quantas histórias de amor como esta que a esponja do tempo na selva apagou
Clarindo valente foi um pioneiro que a história sem glória no tempo esqueceu
caboclo que soube lutar como um bravo, sofreu e amou e honrado morreu.