OLHOS DO PENSAMENTO
(poema escrito em 12/02/1976)
(José Fortuna)
Lá no fundo da memória
De nossa imaginação
Com os olhos do pensamento
Na luz da recordação
A gente vê noites lindas
Vê estrelas na imensidão
Vê nossos rastros deixados
Na estrada da solidão
A gente vê bem distante
Rios, campos e banhados
Vê caminhos que na infância
Por nós já foram pisados
Cidades nunca mais vistas
Luar nunca mais cantado
Palavras nunca mais ditas
Sonhos nunca mais sonhados
A gente vê no passado
A escola onde estudamos
Vê a casa onde nascemos
Campinas onde brincamos
Com os olhos do pensamento
Vê caminhos onde passamos
Vê os braços de nossa mãe
Onde dormindo sonhamos
Na bruma dos desenganos
De nossa idéia cansada
A gente vê tão pertinho
Coisas distantes deixadas
Vê a nossa mocidade
Que ficou despedaçada
Em retalhos esquecida
Nas curvas da longa estrada
Vê o raiar de uma aurora
E um pôr-do-sol que ficou
Sem saber onde nem quando
Isto tudo se passou
Foram os olhos da lembrança
Que esta passagem marcou
E hoje como num sonho
Em nossa mente brotou
Que bom é ser inocente
E crer que ali atrás do monte
Termina o mundo pequeno
Na linha azul do horizonte
Não trazer nos ombros hoje
O grande peso do ontem
E crer que a vida é tão pura
Como a pureza da fonte
Amigo, estes meus versos
Fiz pra você recordar
De coisas que a gente às vêzes
Nunca pensava em lembrar
Porisso se estes meus versos
Acaso lhe emocionar
Chore – porque eu também
Fiz estes versos a chorar