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O CEGUINHO
toada                                                    (José Fortuna - grav. “Os Maracanãs”)

Ninguém olhava para o pobre ceguinho esfarrapado,  nas ruas a sofrer
sempre guiado pelas mão do netinho,  de porta em porta pedindo o que comer
dentro da noite na solidão da vida, noites sem fim,  sem ver a luz do dia
tinha por leito as ruas umedecidas e o netinho por sua companhia.

Passou-se o tempo ficou moço o netinho e do ceguinho não quis mais ser o guia
fugiu pra longe deixando ele sozinho,  abandonado na sua agonia,
desamparado nas trevas da amargura, ele vivia chorando em tristes ais,
“sem meu netinho, as ruas são mais escuras,  meu sofrimento aumenta muito mais”.

E numa tarde os sinos repicavam na capelinha lá longe no arraial
mais uma vida do mundo se apartava,  era o ceguinho que iam sepultar
na cruz de cedro,  na campa do ceguinho deixou escrito alguém que ali passou:
“Descanse em paz -  saudade do netinho - que este ceguinho no mundo abandonou”.