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MINHAS MÃOS
poema
                                                               (José Fortuna)

Minhas mãos, pálidas e frias, larguem as grades desta cela
vamos lembrar o passado de minha infância tão bela
Vocês eram pequeninas, tão gordinhas e levadas
quando roubavam algum doce da mamãezinha adorada
eram vocês minhas mãos quem recebiam palmadas.

Depois de uns anos na escola, aprendeste a escrever
fiquei moço e quantas cartas de paixão e bem querer
escrevestes à minha amada contando meu padecer.

Depois vocês assinaram meu nome juntinho ao dela
lá no Cartório de Paz onde casei-me com ela
e levaram minha amada até o altar da capela
esta aliança em meu dedo foi colocada por ela.

Depois vocês minhas mãos ajudaram meu filhinho
pelas estradas do mundo dar seus primeiros passinhos
vocês ficaram calosas e eu dizia: “Sim senhor.
Esses calos são as provas de um homem trabalhador”.

Porém tudo se acabou quando encontrei aquela
que vocês, oh minhas mãos, tinham levado à capela
nos braços de outro homem,  me traindo sem pudor
desmoronando um  a  um todos meus sonhos de amor.

Nem vi com que rapidez sacaste aquele punhal e
enterraste num só golpe no coração do rival.
Depois vocês, minhas mãos pegaram o pescoço dela
foram apertando, apertando, até perceber que ela
já não respirava mais,   estava morta, e mais bela.

Hoje vocês, minhas mãos, seguram triste uma cruz
onde eu faço minhas preces por trás das grades sem luz
pra ver se encontro o caminho que aos pés de Deus me conduz.

Vocês,minhas mãos, que um dia, só viveram para o amor
hoje enxugam nesta cela meu triste pranto de dor.