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DESCRENÇA

(José Fortuna)

O aguaceiro dos meus olhos que choraram, não foi bastante pra molhar a plantação
Há muito tempo que não cai um pingo d'agua, pra refrescar o peito quente do sertão
E as raízes como garras aparecem, pelas entranhas ressecadas deste chão
O sertanejo olhando o céu desesperado, já cansado, perde a fé na descrença do "sei não".

A galharia desfolhada se parece, dedos da morte apontando a imensidão
O vento triste em seus galhos são lamentos, gemendo a noite no solar da solidão
O rio seco na encosta esturricada é um fio de areia rabiscado pelo chão
De quando em quando uma cruz dos que deixaram, e sem vida já tombaram, pelas curvas do estradão.