CIRURGIÃO DA NATUREZA
(composta em 09/06/1982)
(José Fortuna)
Estes meus calos são anéis de formatura
Eu estudei na faculdade do sertão
Hoje é a enchada meu termômetro que marca
Com meu suor a temperatura do chão
Eu sei a hora do plantio e da colheita
Sei que o feijão para dar mais é bom plantar
Na lua nova – e se o milho for colhido
Na lua cheia é capaz de carunchar
Deita sertão
Vou examinar tua grandeza
Porque eu sou
O cirurgião da natureza
Sei que é preciso arruar o cafezal
Para poder aproveitar melhor os grãos
Após a chuva é que se faz a derriçagem
Antes da panha é que se faz a varreção
Sei que é preciso se fazer curva de nível
Pra que a enxurrada não provoque a erosão
Para ajudar quem atrasou-se na colheita
A vizinhança se reúne em mutirão
Sei que depois de toda mata derrubada
Só é queimada quando o cipoal secar
Depois do fogo é que se faz a destocagem
E o arado vem a terra destocar
Sei que o café carrega mais se for tirado
Todos os brotos que em seu tronco se arrodeiam
Tem que tirar do algodoeiro suas pontas
Pra que suas saias de maçãs fiquem bem cheias