CACHAÇA, INFERNO DA VIDA
poema
(José Fortuna)
Meia-noite, a luz se acende lá no finzinho da rua
e pela porta de um barraco penetra um raio de lua
É o Juca que chega em casa lá do bar embriagado,
batendo em todo mundo gritando desesperado
“Oh, muié, cadê a pinga que eu deixei no garrafão?
Procê largá de ser besta vou te matá, tá bão?
Tá vendo esta garrucha? Tem tuas balas pra você
Vou te enfiar na cabeça só por não me obedece”.
Só dois tiros e um gemido, foi o fim daquele drama
enquanto no outro quarto, cinco crianças na cama
Abraçadinhos, tremendo, entre soluços e ais
com medo, a chorar diziam: o papai matou mamãe.
Dessa tragédia o que resta todos podem adivinhar
o pai em uma prisão pelo seu erro a pagar
a mãe embaixo da terra e as crianças a penar
desamparadas no mundo pelas ruas a mendigar
Quantos dramas como este por esse mundo existe
quanta dor e quantas lágrimas rolando dos olhos tristes
das crianças inocentes, vendo o pai se embriagar
e transformar em tortura o seu pobrezinho lar
Maldita pinga, maldita! tu deixas por onde passa
um rastro de dor e sangue, desolação e desgraça
e quanta felicidade que tu transforma em fumaça
quantos lares destruídos pela maldita cachaça!
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