ATALHO
(José Fortuna/Paraíso - grav. Mococa e Paraíso)
Havia um bosque no sertão de minha terra, entre a estrada e a fazenda onde eu morava
para tomar a jardineira do outro lado, por dentro dele muitas vezes atalhava
O sol varando a copa verde da floresta, pingos de ouro no atalho derramava
Eu espantava borboletas pequeninas com o barulho do cipó que arrebentava
quando eu corria pra tomar a jardineira que erguendo pó lá do outro morro buzinava
Hoje no atalho do meu peito abandonado
o meu destino a pisar folhas caídas
cruza a floresta do outro lado do meu tempo
pra ver os anos carregando minha vida
Admirava as flores brancas que se abriam pelo atalho com o calor do sol da tarde
naquela idade cor-de-rosa eu também era como um botão a se abrir na flor da idade
o sol menino derramava lá do alto sobre meus rastos pingos de felicidade
até que um dia o vendaval dos desenganos em pedacinhos fez a minha mocidade
desesperado hoje eu grito e não encontro o meu atalho na floresta da saudade
Hoje no atalho do meu peito abandonado
o meu destino a pisar folhas caídas
cruza a floresta do outro lado do meu tempo
pra ver os anos carregando minha vida