A TELHA
(composta em 07/01/1983)
(José Fortuna/Paraíso)
Depois que os anos meu viver cansaram
Voltei pisando o meu velho rastro
Fui ver a casa onde eu vim ao mundo
E em seu lugar só havia um pasto
Mas entre a grama encontrei uma telha
Que viu um dia eu chegar à vida
Sinal pequeno que a saudade guarda
Sobra de mim que lá ficou perdida
Telha – que sombreou meu vulto de menino
Telha – sinal marrom no chão de meu destino
Telha – que viu eu dar os meus primeiros passos
Telha – deu-me repouso após o meu cansaço
Antes que as rugas no meu rosto cheguem
Uma por uma igual um telhado
E sobre ela irá rolar meu pranto
Sempre que a mente voar ao passado
Eu fui buscar a derradeira telha
Onde as aranhas haviam bordado
Com fios do tempo esta cruel cadeia
Onde meu ser padece aprisionado